sábado, 29 de junho de 2013

A VERDADEIRA IDENTIDADE DE JEITOSINHA Cap. XV

Capítulo XV - Decisões

O júbilo de Jeitosinha durou pouco. Se num primeiro momento a ideia de ter salvo a humanidade era alentadora, horas depois o que a fantástica experiência lhe causava era mais revolta e dor. De que adiantava ter salvo o mundo, se não obteria pelo seu acto qualquer tipo de reconhecimento?
Para o resto da humanidade, ela continuava sendo aquele ser anacrónico, discriminado por fugir dos padrões. Só uma pessoa na cidade estava se sentindo mais angustiado: Bruno. Num bairro distante, trancado em seu apartamento, o pobre rapaz reflectia sobre a grande - bota grande nisso - emoção que sentiu em sua primeira noite de amor com Jeitosinha.
"Será que eu gostei porque era a minha amada?", perguntava-se. "Ou será que tamanho prazer adveio do facto de que se tratava de um homem? Sou hetero ou gay?".
- Quem é você? - Gritou Bruno angustiado, olhando sua imagem no espelho. Sentia-se sujo. Seus desejos o incomodavam, como se ele tivesse experimentado a fruta do pecado. Mas sabia que Jeitosinha era uma vítima, como ele. Ele podia entender que a namorada era um modelo de virtude e pureza, e que seu gesto, ao seduzi-lo, era apenas uma grande manifestação de amor! Por um momento, olhou para o problema sob outra perspectiva, muito menos dramática:
"Sim, Jeitosinha é pura. É a minha Jeitosinha. Em nome desta pureza vale a pena continuar com ela!", concluiu. Se ela fosse um travesti vulgar... mas não! Ela foi criada como uma mulher, sob rígidos padrões morais! Quem sabe eles ainda pudessem ter uma vida juntos, mantendo a condição de Jeitosinha em segredo?
Num fragmento de sonho, Bruno se viu casado com ela, vivendo grandes noites de amor e criando duas crianças adoptadas - Martim José e Cátia Marisa - como se fossem seus filhos biológicos. Pensou em procurar a sua doce amada naquele mesmo momento e propor a realização do casamento, tão desejado em tempos menos complicados.
Mas antes precisava enfrentar seu próprio demónio interior. Precisava saber se o que sentira naquela noite mágica era amor ou pura volúpia. Precisava, enfim, fazer amor com outro travesti e colocar-se à prova! Bruno resolveu que aquela noite iria a um bordel atrás de respostas. Iria buscar reviver, com uma vulgar criatura da noite, emoções tão grandes quanto as que viveu com sua inocente Jeitosinha.

Mal podia imaginar a grande surpresa que o esperava......
cCapítulo XVIII - Será que Bruno e Adenair são...?
Ambrósio não conseguia  lembrar-se exactamente quem ele era. Imagens confusas de um travesti loiro com uma moto-serra lhe vinham à mente, enquanto ele reconhecia alguns trechos do caminho. Acabou chegando até à porta de sua casa, mas não teve coragem de entrar, especialmente porque não tinha a menor ideia de que lugar era aquele. Viu que dois homens jovens conversavam, sentados num banco da varanda. O dia estava quase nascendo.
Do outro lado da rua, Ambrósio reconheceu algo de familiar naqueles rostos. Mas quem seriam? Aliás, quem seria ele mesmo? O homem subitamente percebeu que nem sequer podia lembrar-se de sua própria face. Procurou algum vidro ou espelho onde pudesse se ver reflectido. Numa grande e quieta poça de água, viu a sua cara monstruosa. Com um grito aterrador correu rumo a um matagal próximo. Estava confuso e com medo. Bruno e Adenair ouviram o grito, mas não deram muita importância.
- Você pode se abrir comigo, Bruno. Sei tudo a respeito de Jeitosinha.
- Tudo? - surpreendeu-se.
- Sim... Ela é uma vítima, tanto quanto você...
Pelo comentário, Bruno percebeu que talvez Adenair não soubesse que a irmã era uma prostituta. "Se ela conseguiu me enganar, porque não enganaria o irmão?", perguntou-se.
Tombando diante da pressão, Bruno chorou convulsivamente. Adenair puxou-o em direcção ao peito, abraçando-o e acariciando seus cabelos.
Bruno pôde perceber que o toque e o suave perfume do rapaz lembravam muito os de sua irmã. Sentiu-se confortável por alguns minutos. "Enxugando as lágrimas, Bruno viu bem de perto os olhos de Adenair, tão parecidos com os de Jeitosinha. Só então deu-se conta de que algo estranho acontecia ali: o apoio que estava recebendo, mais físico e mudo do que um simples diálogo, não é comum entre os homens.
- Adenair, porque você me abraçou deste jeito? - perguntou, temendo a resposta.
Num matagal a poucos metros, Ambrósio começava a se dar conta de quem era.Talvez por um bloqueio, causado pela morte violenta ou pelo processo utilizado para trazê-lo de volta à vida, não associava o travesti loiro à sua amada Jeitosinha. Mas já sabia que ele era o chefe daquela casa que reconhecera, e que estava deformado por alguma terrível razão, a mesma pela qual se sentia impelido a manter-se escondido.
Na varanda da casa, Adenair começava sua revelação. Cada palavra pronunciada doía como um parto.
- Bem, Bruno... Também tenho um segredo... .

Qual será a reacção de Bruno... E Ambrósio? Vai querer vingança?

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