sábado, 30 de março de 2013


"Maria,
O amuo por eu ver o Benfica em feroz isolamento. Sabes, a vergonha, como as moedas em particular e a vida em geral, tem duas faces, na fantasia ambas me faziam perder a minha! Os rapazes ganhavam e uma alegria adolescente inundava este coração envelhecido e hesitante (falo das extrassístoles, não de ti). Eis-me loquaz, disponível, ternurento, um puto com idade para ser teu pai. Ou perdiam…... E nasciam silêncio pesado, respostas telegráficas, afagos distraídos, o bilhete de identidade cerrava os dentes com galhardia, mas sem remédio – com idade para ser teu pai mergulhava na distância de uma velhice demenciada.
E tu não vinhas. Mas estavas perto, querida, estavas perto. Agora não, mesmo se. por milagre…, eu crescesse – “vem!” –, os quilómetros impediriam toque de campainha, riso aberto, remoque meigo – “ se não te acautelas ainda chegas a adulto!”.
Não me acautelei; puto, velho ou adulto, perdi-te; nem sequer tenho um árbitro para culpar. Ou segunda volta para jogar…"

Júlio Machado Vaz